domingo, 11 de agosto de 2013

Very Pagan Poetry (editado, 2006, 2010)

Dos recantos obscurecidos
Voam abelhas cremosas
Com canhões pneumáticos
Amarelo
Quilos de moléculas
Abraçando os neutrinos da quinta feira
Nos rios das montanhas
Feliz
Zebras de erudição fumegante
Atravessam o Deserto de Cristal
Na noite do odor
Alambique
Através das flores dormentes
Sobem as núvens de trenós
E as couves chispam gasóleo
Exausto
Aortas aladas
De chicotes sorridentes
Relincham mercúrio
Mel putrefacto
De bezouros recoberto
E gangrenas do pôr do Sol
Revolteiam troncos e bonés
Algemado!!
Demências encarnadas
Raiadas de cogumelos gordurosos
Tábuas de 5 minutos
Alarmado
Patins com maçãs
E vapores de benzidrina
Comunismos auriculares
A ganir
Umbigo autoanalítico
De pendor cibernético
Encerando os fedores do fim
Empalado!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Afrik-Ilha (Julho de 2005)

O bio-led de aviso começou a piscar no visor e o ruído agudo e intermitente soou, em simultâneo, no auricular esquerdo, correspondendo a uma avaria num dos sistemas de apoio fisiológico. Orugana resmungou de si para si, enquanto solicitava um relatório ao Sistema.
-Outra vez os trocadores catiónicos!! Um dia destes morro frita! Tenho que voltar a Kinshasa-Pit... E o Chefe vai ficar furibundo...
De facto, Orugana era aguardada no Cais do Departamento de Energia por Jean Katanga, o seu superior hierárquico. E a expressão patibular que lhe ensombrava o semblante preconizava uma proverbial fúria.
-Verificaste os Módulos todos?
-Não, Chefe. Estava no 6º Módulo quando o Simbi avariou.
-Vai imediatamente à Engenharia Metabólica substituir os trocadores catiónicos antes que frites. Tens que voltar para os Lagos ainda hoje.
-Mas...?
-Mesmo que não tivesse recebido o relatório do teu Hyper-jet, minha doida, teria apostado que te esqueceste de tomar o crio-banho, e que o Simbi iria avariar...
-Chefe...Euh...
-Desanda!!!
Alia Orugana era extremamente distraída. Era também uma Mutapol, ou seja, um indivíduo de etnia Bantu que morreria se a sua temperatura corporal atingisse os 5º Celsius. O facto, embora indiscutível, ainda espantava a comunidade médica e era geralmente considerado como uma das consequências da III Guerra Mundial. A parafernália de armamento químico e biológico utilizada, os fall-outs radioactivos e as distorções causadas pelas bombas de singularidade exerceram efeitos tão drásticos quanto inusitados.
Katanga lembrava-se bem da tragédia. Era ainda criança quando a primeira geração de mutantes atingiu a puberdade e, literalmente, fritou em frente aos pais. A dimensão do drama e o dogmatismo das Leis de Protecção Biológica e de Demanda Científica e Tecnológica obrigaram a uma investigação exaustiva, que determinou tratar-se de uma mutação genética, logo, restreável, e conduziu a uma solução engenhosa. O Departamento de Engenharia Metabólica modificou profundamente os Fatos de Trabalho em Ambientes Extremos até obter o SIMBIONTIX, que, de forma simplificada, se pode definir como um sistema para-renal, um sistema para-hepático e um sistema meta-endócrino em forma de fato de mergulho, dotado de protecção contra radiações e controlo informático senciente, com uma interface neural simpática e outra parassimpática, sendo carinhosamente designado por Alia como Simbi. O sistema era fabricado em material proto-vivo, que acompanhava o crescimento do mutante desde a puberdade até ao fim da sua vida. As dificuldades de concepção foram, contudo, enormes e se o tacto virtual era um sucesso, o sistema de refrigeração sempre apresentara limitações.
Jean censurou-se enquanto analizava os dados debitados pelo terminal telemétrico dos Módulos. Permitiu-se divagar sobre o passado por demasiado tempo e a verificação dos restantes 14 módulos deveria estar concluida ao final do dia. Os Pits estavam a racionar energia devido às quebras de potência e os sistemas de refrigeração estavam parcialmente desactivados. Os 60º Celsius de temperatura ambiente, acrescidos do agravamento devido à profundidade iriam causar um nefasto impacto muito em breve. E o sofrimento dos 400 milhões de habitantes dos Pits traria o caos.
-Nome e posição?
-Alia Orugana, Física de Fusores Frios, Mutapol.
-Deite-se na marquesa, insira o tubo púrpura na Porta-Externo do SIMBIONTIX e aguarde 50 minutos.
-Afirmativo.
A sensação de calor sufocante e a taquicardia que oprimiam Orugana diminuiram gradualmente de intensidade, enquanto a sua temperatura corporal baixava para os fisiológicos 0,5º Celsius, permitindo-lhe relaxar e aproveitar o descanso forçado. Estava a ouvir música quando Katanga trovejou nos auriculares:
-Vais com Haillé Kabila para os Lagos. Partem às 11:35.
-O Chefe sabe que eu detesto esse tipo! Sempre o detestei, e essa notícia causou-me uma nítida e desagradável sensação pré-cognitiva.
-Alia, vais ignorar a sensação, vais com ele e serás colaborante. Fui claro?
-Como água tridestilada...
-Ah! Alia?
-Sim, Chefe?
-Não vás rasar as águas do Lago Hutu. Há Tempestade Gravítica.
-Epicentro e Raio de Schwarzchild?
-Os dados foram enviados para o Hyper-jet e NÃO VAIS PASSAR A VÔO MANUAL!!!
-Afirmativo, Coronel-Físico.
Katanga desligou incomodado. Andava a apertar com Orugana e ela mostrou-lhe que estava furiosa. Por culpa dos militares é que existiam Mutapols, e estes nunca integravam hierarquias militares. Aliás, só se referiam explicitamente a elas para ofender... E ela era uma Física de Fusores promissora, o melhor piloto de Hyper-jet que ele conhecia e, sobretudo, não era responsável nem pela estranheza da avaria nos Módulos, nem por essa outra herança da Guerra, as Tempestades Gravíticas. Estes fenómenos eram pequenos buracos negros temporários que só afectavam massas, não criando distorções temporais mensuráveis, mas que eram mortíferos para quem cruzasse os céus e se deparasse com uma. Como se o dia não estivesse suficientemente arruinado, abatia-se agora uma destas tempestades sobre o antigo Lago Tanganica, actualmente Lago Hutu.
-Necessito de calma, mas como?!?!
O semblante de Katanga tornou-se ainda mais carregado. Se os rumores fossem minimamente verídicos (e a imposição de Kabila pela Agência Estrutural de Energia assim o sugeria), o caso era muito, muito grave... Kabila era agente do Corpo Energético, o discreto e sinistro Grupo de Combate e Espionagem da Agência e a obrigatoriedade da sua presença nos Lagos indicava que a avaria nos Módulos não era uma simples falha técnica. O eco do vocábulo "sabotagem" corroia-lhe o limite da consciência.
- Está autorizado a descolar, DEhyp/KP04.
-Afirmativo, Controlo.
O Hyper-Jet saiu na vertical de Kinshasa-Pit e, quando atingiu os 40000 pés de altitude, virou para Leste, em direcção à Região dos Grandes Lagos. Era sempre uma visão avassaladora: 50 milhões de pessoas vivendo num buraco escavado na crusta terrestre, ao abrigo da nova vida selvagem, que proliferava na superfície.
-Causa-me sempre um desconforto imaginar toda esta gente num buraco. E a si, Kabila?
-Penso tratar-se de uma forma adequada de organização. Os níveis de radiação e a temperatura média à superfície, a ausência da Camada de Ozono e a toxicidade ainda apreciável da atmosfera, em conjugação com a hostilidade da Nova Vida Selvagem, justificam plenamente os Pits.
-Ainda assim...
Orugana considerou, pela enésima vez, que Kabila era mesmo obtuso e sinistro, resolvendo alhear-se da sua presença e apreciar os vibrantes tons violeta, púrpura e prateado da luxuriante floresta tropical... Embora o termo fosse, na verdade incorrecto. O desaparecimento da Camada de Ozono e a poluição causada pela Guerra provocaram uma verdadeira Revolução Darwiniana e os pigmentos fotossintéticos bacterianos, os mecanismos reparadores do material genético típicos do domínio Archaea e a polivalência metabólica tinham ganho a acelerada corrida evolutiva. A floresta tropical, em termos celulares, pouco diferia de uma colónia de bactérias, tendo obrigado à definição de uma nova classificação taxonómica: domínio metacariótico.
-Controlo dos Lagos autoriza a aterragem, DEhyp/KP04.
-Afirmativo.
Desacelere e efectue a aproximação final.
-Afirmativo.
O Hyper-jet desacelerou e pousou no Cais da Ilha Artificial, sita no centro geométrico do Lago Tutsi, antigo Lago Victória. Tinham demorado 20 minutos a percorrer os cerca de 2000 Km que separavam Kinshasa-Pit da Ilha Artificial, onde estavam instalados os 20 Módulos de Fusão Nuclear Fria e o Fusor Térmico de Implosão FEASER, que asseguravam o fornecimento de energia à República Ecotópica de Afrik-Ilha, a maior ilha do Planeta.
Com efeito, a arma estratégica detonada em Bagdad provocara um sismo que alargara o Mar Vermelho, tendo também a fusão parcial das Calotes Polares contribuido para a remodelação do Mapa-Mundi. O local onde fora Port Said, encontrava-se submerso, distando 300 Km do Noroeste da Península do Sinai e este último já não era um monte. Orugana e Kabila iriam averiguar o que obstava ao contínuo fornecimento de energia a esta ilha-continente.
Orugana ditou o relatório preliminar a Katanga pela segunda vez, volvendo este com com incrédula irritação:
-Não é possível, Orugana! Verificaste os instrumentos de medida?
-Toda a instrumentação foi triplamente verificada ontem, Chefe. E hoje, após obter as primeiras leituras, verifiquei tudo novamente. Insisto na significância estatística dos dados, Chefe. Veja por si.
-Estou a ver... E continuo a não acreditar nestas variações instantâneas e periódicas da concentração em Deutério...
-A concentração cai a zero instantaneamente, mantém-se durante 60 segundos e retoma os valores iniciais também de forma instantânea.
-Regressem. De-briefing daqui a 30 minutos.
-Até já, Chefe.
Estavam perto do Lago Hutu quando o alarme de colisão soou durante meio segundo. Desligou-se de imediato e sofreram um bombardeamento de radiação X, emanado da Tempestade Gravítica.
-O que foi isto?! - Exclamou Orugana.
-NADA!!! Não passará a vôo manual e proseguirá até Kinshasa-Pit. No De-briefing mencionará um vôo sem incidentes.
-Afirmativo.
Orugana remeteu-se ao silêncio. Katanga enviara-a na companhia de um militar... UM MILITAR!!! Agora era claro o motivo da intensa aversão que sentia por Kabila. Após a aterragem, este despediu-se de forma calculadamente informal, mas espantou-se com a seca resposta:
-Até à próxima, Orugana.
-Boa tarde e passe bem, Sargento.
-...?! Bah!!! A tipa topou e não se calou - pensou Kabila - Tanto pior. Amanhã será presa e executada... Talvez antes, se falar demais...
Kabila abandonou o Cais do Departamento de Energia absorto em considerações sobre o comportamento subversivo dos malditos frigoríficos (termo depreciativo que designava os mutapols) e a necessidade premente de declarar a Lei Marcial. Não entendia a brandura dos dirigentes:
-Se eu fosse membro do Colégio Ecotópico... - pensou odiosamente Kabila.
Entretanto, Orugana dirigiu-se ao gabinete de Katanga, furiosa. Entrou de rompante, contou-lhe o sucedido e ia começar a acusá-lo de forma veemente, quando se apercebeu do olhar destroçado do seu Chefe:
-Bravo, Alia!!! Ponderada nas acções e nas palavras, como sempre... A tua atitude para com ele e o facto de comentares a situação comigo garantiu-te a Pena de Morte!!! E, provavelmente, a mim também...
-AQUELE ANIMAL!!! Após o acidente fiquei mais alerta e apercebi-me do pensamentos dele. E quando já estávamos no cais, depois de lhe chamar "sargento", senti-o a ofender-me e a pensar em Lei Marcial. Esse gajo é uma besta!
-É indiferente, Alia. Desmascaraste um Agente do Corpo Energético! Isso é punido com a Pena de Morte.
-Mas...? MAS !?!?
Ambos estavam a olhar para o tanque holográfico quando sentiram o tremor de terra. O tanque holográfico estava, por acaso, a transmitir uma imagem real-time da superfície de Estrutura 2, a velha Lua, pelo que puderam observá-la a brilhar por um momento, em simultâneo com o abalo sísmico. Ainda completamente estupefactos, viram a imagem de Estrutura 2 desaparecer e surgir um texto tridimensional, flutuando ao centro do tanque:
ALIA ORUGANA É AGUARDADA EM EUFRATES ÀS 0900 DE 04.03.517 CTE, MERIDIANO ZERO. O NÃO CUMPRIMENTO SERÁ PUNIDO COM EXECUÇÃO SUMÁRIA.
Katanga estava boquiaberto. Era director do Departamento de Energia de Afrik-Ilha há 16 anos e nunca vira texto no tanque holográfico... Também era incapaz de compreender como se podia enviar alguém a Eufrates, se lá só existia areia vitrificada e água radioctiva. Orugana, que finalmente percebera a real gravidade da sua situação, soluçava e tremia:
-O que é isto tudo, Chefe!?! Estou morta... Morta!!!
-CALMA, ALIA!!!
Katanga falou de forma imperativa, mas abraçou-a e fê-la sentar-se confortavelmente. Contudo, Orugana permanecia inconsolável e quase em choque. Katanga insistiu:
-Para já, sabes que vais viajar dentro de 2 dias.
-Pois, Chefe... Para Eufrates, o Território Morto! E depois?
A Alia que ele conhecia, de resposta pronta e certeira, regressara e Katanga sentiu-se aliviado. A miúda era mesmo forte.
-Não sei responder a essa questão, Alia... Mas acredito que nos vamos tornar a ver e que, nessa altura, já não me chamarás chefe.
-O Chefe está a ser demasiado optimista...
-Não, Alia...
Katanga hesitou, ponderando se devia mencionar informação classificada, mas dada a estranheza de toda a situação e a incerteza do destino de Alia, ignorou todas as premissas protocolares:
-Orugana, escuta-me com atenção. Esse tanque holográfico é gerido pela Força Armada Unitária Estrutural. Um contacto deles é suficientemente bizarro para me levar a acreditar que não te vão levar a Eufrates só para te executarem. Há aqui algo que, naturalmente, me escapa, mas esta situação evoluiu para uma esfera de influência elevadíssima. Agora, aconselho-te a descansar. Amanhã tens o dia livre, mas quero que almoces comigo no Tiki-Tiki, que tem interfaces alimentares para mutapols. Vou obter mais informação e durante o almoço iremos conversar.
Orugana saiu do gabinete de Katanga e dirigiu-se ao seu apartamento. Ensombrada pela situação, as memórias vaguearam até à sua família, morta numa Tempestade Gravítica durante o seu semestre de estágio. Ela encontrava-se no Lago Tutsi, ainda a trabalhar no Fusor Térmico e os pais decidiram viajar até Pretória-Pit, para gozarem uma folga estatal. Um conflito de prioridade civil-militar nos servidores meterológicos desconectou o radar gravitacional do Transportador Comercial e os pilotos não puderam evitar a tempestade... Mais uma vez, os militares foram de uma prestabilidade inestimável!!! Quando chegou à pesada porta isolante da sua casa, Orugana chorava copiosamente.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

O Dia dos Raios (Março de 2011)

O ar na 3ª Acrópole estava abafado, prenunciando uma trovoada quente. E o céu plúmbeo confirmava a acumulação de energia.
Dragosha aproximava-se velozmente do Edifício do Concílio, apreciando a uniformidade cinzenta entre a extensa malha urbana e os céus. Desde muito nova que adorava trovoadas, pois os relâmpagos transmitiam-lhe alegria.
Decidiu penetrar no centro do cumulonimbo que se desenvolvia à vertical do Parque-Tanque e optou por uma ascenção curta até ao topo da núvem, a fim de executar uma experiência científica que há já alguns Centiciclos de Gaya andava a preparar. Contando do Centro Geométrico da cidade, encontrava-se um Parque-Tanque a cada 5 léguas e a sua contrução fora realizada sobre cinco eixos com ângulos de 72º entre eles. Dragosha encontrava-se já a voar sobre o 2º Parque Tanque do Eixo 198.
O Templo da Dominância geria os Parque-Tanques, entre outras Instituições da gigantesca Cidade-Estado. Aqueles eram, basicamente, tanques cónicos com 200 braças de altura por 150 braças de raio na base, que albergavam culturas de cianobactérias, elegidas com biossistema fotossintético para a produção de oxigénio diatómico.
Dragosha era a Engenheira Metabólica Sénior dos Parque-Tanques no Eixo 198 e, na qualidade de Especialista em Citossíntese, desenvolvera os Heterocistos Z2 e Z3, células artificiais cujos metabolismos seriam, em teoria, responsáveis pela biotransformação das Espécies Reactivas de Azoto e Oxigénio e pela bioacumulação e estabilização de metais pesados presentes na atmosfera, respectivamente. Estes heterocistos artificiais não requeriam ausência de oxigénio para os metabolismos específicos, ao contrário dos seus semelhantes naturais, cujo metabolismo específico de redução de azoto atmosférico a amoníaco necessita de pressão parcial intracelular nula no referido gás.
A citossíntese e optimização dos sistemas multienzimáticos artificiais correra de forma muito satisfatória, mas o arranque do funcionamento in vivo não se processava. Dragosha fizera uma análise exaustiva das condições de cultura e das variáveis envolvidas e concluíra que o potencial de membrana estaria a bloquear cascatas de sinal imprescindíveis para a expressão dos novos sistemas enzimáticos. Ocorrera-lhe uma ideia radical para modificar o potencial de membrana já com as células em cultura.
O plúmbeo céu escureceu ainda mais e Dragosha, encontrado-se à vertical do Parque, colocou as suas asas membranares em delta, iniciando a subida. Pretendia mergulhar no cumulonimbo pelo topo, efectuar uma descida a pique até à distância de arco eléctrico, que iria depender da carga eléctrica acumulada na núvem e da diferença de potencial em relação às águas superficiais do Parque.
Enquanto se elevava nos céus, Dragosha deleitou-se com o alargamento da perspectiva sobre a Cidade e com a vastidão do horizonte monocromático que se lhe abria. A expansão da construção fora tendencialmente circular e cobria actualmente uma superfície com 50 léguas de raio.
No centro geométrico da Cidade erguia-se a Estrutura Quadripolar, constituida pelo Lago da Memória, a Torre do Segredo, no centro do lago, e o Tri-Reactor, cujos edifícios estavam construídos nos vértices de um triângulo equilátero com 3 léguas de lado, estando um dos vértices do triângulo alinhado com Sul.
Dragosha contemplou a Estrutura Quadripolar e sorriu com orgulho, à vista da Torre e dos 3 Reactores de Fusão Nuclear Quente. Mu 1 estava bem organizada, considerou ela. Na eventualidade de um ataque de Thulé ou de Poseidon, os elementos do Partido Interno-Interno (60 membros) entravam na Torre do Segredo e activavam os motores gravitacionais, permitindo algumas opções de fuga ou de ocultação espacio-temporal.
A ascenção de Dragosha terminou e ela retirou o bastão de platina da bainha dorsal. As medições do exofato senciente indicavam-lhe 0.94 Unidades de Carga Electrofraca, correspondendo a uma distância de arco eléctrico de 57.35 braças acima da superfície líquida do Parque-Tanque.
Dragosha iniciou o mergulho vertical, activou remotamente o alarme antiaéreo, para evacuar todos os obreiros e obreiras e desactivou os escoadores de carga estática do edifício. De acordo com os seus cálculos, a manipulação de um tremendo relâmpago, direccionado ao meio de cultura possibilitaria o início do funcionamento dos heterocistos Z2 e Z3.
A velocidade crescente da descida excitava Dragosha, que sentia a descarga de adrenalina a percorrer-lhe a espinal medula, a expansão espinal/cortical e o encéfalo, enquanto uma miríade de instantâneos mentais fragmentários lhe vinham à memória. Destes, os mais recorrentes eram as memórias visuais das fábricas extremamente poluentes que se encontravam em plena laboração por toda a Cidade. A estabilidade social obrigava a que fossem atribuidas tarefas laborais frequentemente contraditórias, de modo a manter as massas ocupadas com trabalho. O Continente Lemuriano era dominado por três cidades de 600 milhões de habitantes cada uma e experimentara por duas vezes uma abertura democrática, com consequências catastróficas. Evoluira-se naturalmente para um regime totalitário urbano-tecnológico em que o sector de produção de alimentos era totalmente automatizado e controlado remotamente pelos membros do Partido Externo-Externo.
A contagem para o ponto de descarga, calculada com precisão pelo exofato, decrescia no visor monocular esquerdo e Dragosha rodopiou o bastão de platina, iniciando a formação de uma esfera de plasma em seu redor.
Dragosha continuava cogitando na Organização da Lemúria, recordando que o Partido Externo-Externo era também responsável pela definição do Intervalo Comportamental Padrão e pela manutenção coerciva das massas dentro dos limites daquele. Para isso, cada um dos 300 mil membros era pessoalmente responsável pela chefia de 2000 elementos das Massas Obreiras. Em caso de anomalias, eram enviados relatórios aos membros do Partido Externo-Interno. Este, com 3000 membros, era responsável pela Milícia Unitária, pelo controlo do tecido industrial clássico e tecnológico, pela maquinaria repressiva/punitiva e pelos sistemas de saúde e de educação/doutrinação. Os três membros de topo do Partido Externo-Interno contituiam o Triumvirion, a Entidade Presidencial de cada cidade. Os três elementos do Triumvirion eram os únicos que tinham conhecimento da existência do Partido Interno-Interno. Este, com os seus 60 membros, era responsável pelas Tecnologias Avançadas, pela Estratégia Planificada Civilizacional e pela gestão da Estrutura Quadripolar, cujo perímetro era absolutamente interdito, sendo fomentada a crença de que se encontrava desocupada, tendo um funcionamento automático e controlado pelas 7 Entidades Sencientes da Rede de Informação do Partido, o único sistema de informação a funcionar no Domínio Lemuriano.
A esfera de plasma brilhava com um esplendor branco-azulado e, quando a contagem atingiu zero, Dragosha interrompeu bruscamente a rotação do bastão de platina, apontando-a na direcção da superfície das águas do parque tanque, enviando uma gigantesca descarga para a serpentina de ouro que no dia anterior colocara no tanque, para actuar como pólo oposto.
O Parque-Tanque, cujo meio de cultura tinha um tom cinza-azulado, brilhou por um segundo com uma oscilação de tons entre o roxo e o dourado e retomou a tonalidade normal.
Dragosha abriu as asas membranares, reduziu rapidamente a velocidade e terminou o mergulho com uma curva elegante a rasar as paredes transparentes do Parque-Tanque. Voltou a subir e aguardou pela telemetria, em vôo circular sobre o Parque-Tanque. Os dados de telemetria atmosférica e do meio de cultura iniciaram o input, confirmando os cálculos teóricos de Dragosha. Durante o resto desse dia, as massas obreiras e os membros do Partido Externo-Externo assistiram apreensivos a uma série de trovoadas que se dissipavam após um único relâmpago saltar para cada um dos “tanques azuis”.
Após cessar a série de descargas electrostáticas, Dragosha voou até ao perímetro da Estrutura Quadripolar e penetrou na Torre do Segredo, pousando na Plataforma de Aterragem, junto a um veículo Vril, um disco voador com motor gravitacional, contemplando o símbolo da Federação pintado na fuselagem: um raio azul com um miu prateado sobreposto.
Dragosha era bela e terrível, fazendo lembrar um morcego humanóide dotado de uma força descomunal, que os nanomotores acoplados à mitocôndria artificial do exofato possibilitavam. Contemplou Mu 1 do topo da Torre do Segredo, com a altivez típica de um membro do Partido Interno-Interno e retirou o capacete do exofato, revelando um rosto de uma beleza morena e invulgar, adornado por cabelos lisos e pretos. Enquanto contemplava a cinzenta cidade, Dragosha releu a circular P.I.I. relativa ao aumento de imigração atlante, toda da casta dourada. Os seus penetrantes olhos violeta faiscaram com ódio, enquanto considerava que os energúmenos orgulhosos e auto-instituidos "Paladinos de Gaya", afinal, tinham problemas graves na pseudo-utopia...

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Zigurate (Abril de 2005)

A mulher teria seguramente 1.85 m de altura, tez morena e longos cabelos negros, levemente ondulados. Trajava um vestido preto justo, que lhe realçava o corpo escultural, usava um delgado fio iridescente ao pescoço e tinha as unhas pintadas de preto. Judith estava impressionada com tamanha beleza e exotismo e ter-se-á denunciado com um olhar mais demorado, pois que a mulher voltou-se para ela e subjugou-a completamente com a intensidade dos seus grandes olhos azuis escuros.

Judith ficou colada ao chão, como que hipnotizada, consumida por uma sensação estranha de vazio mental e um desejo ardente de conhecer aquela mulher, apesar do medo que ela lhe inspirava e do facto de nunca antes ter desejado conhecer uma mulher... Não desta maneira!

Acercando-se de Judith, a mulher apresentou-se:

-Sheenaz Szandòz, a senhora é?

-Judith Krilliev...

Se a impressão visual fora profunda, abissal foi a sensação causada por aquela voz grave e majestosa que, enquanto soou, impediu Judith de observar o bar onde se encontravam, e lhe preencheu a perspectiva visual com imagens de cidades antigas e povos exóticos.

-Gostaria que me acompanhasse, Judith... E a Judith também o deseja.

-Euh, sim...Mas...

-Shhhhhh....

Enquanto emitia o som, Sheenaz colocou um dedo sobre os lábios de Judith e encaminhou-a para o privado do bar, onde apanharam um elevador.

-Onde vamos?!... Isto é muito estranho e suspeito...

-Nada tema, Judith. Vamos ao topo do edifício. Vai gostar da vista...

Fora o único lampejo de vontade própria que animara Judith desde que cruzara o olhar com aquela mulher, mas era inútil... Até porque Judith estava a aperceber-se da intensidade com que desejava sexualmente Sheenaz.

Quando chegaram ao terraço do edifício revelou-se-lhes uma soberba vista do Rio Hudson e Sheenaz tomou Judith nos seus braços.

-Sheenaz...Eu nunca senti algo desta intensidade por ninguém...Confesso que estou bastante assustada

-Nunca receies a tua vontade, Judith. Existem potencialidades em ti que transcendem qualquer receio que até hoje tenhas sentido.

O tom de voz tinha sido invulgarmente profundo e apaziguador...

E Judith beijou Sheenaz.

No momento em que se beijaram, o seu corpo começou a aumentar de temperatura e as imagens de povos e cidades, peculiarmente ancestrais e exóticas, repovoaram o seu imaginário de forma mais perene. O beijo evoluiu rapidamente para um cenário de preliminares sexuais e o Rio Hudson já não era visível. Judith sentia uma aragem quente e seca na sua pele nua, uma aragem típica de uma noite de verão no deserto... E os olhos de Sheenaz tornaram-se luminosos, de um tom azul ainda mais escuro e profundo. Ultrapassaram os preliminares.

Fizeram sexo de forma intensa e apaixonada, com conhecimento perfeito do corpo uma da outra, como se fossem amantes há já vários séculos e Judith atingiu o clímax brutalmente.

Após o orgasmo, Judith olhou espantada em redor, pois que já não se encontrava em Nova York, mas no topo de um Zigurate, com o deserto e o Rio visíveis ao longe. Olhou Sheenaz, cujos olhos cintilavam, luminosos e completamente azuis. Esta sorria nua, com o seu cabelo agitado pela brisa do deserto. Começou a falar, mas a voz era um rugido grave e gutural, absolutamente inumano:

-Eis-te desperta, Nobre Judith. Agora és verdadeiramente tu!!!

-Eu?...

Judith remeteu-se ao silêncio. A sua voz tornara-se igual à de Sheenaz.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Gilgug (Outubro de 2009)

Habitava um estranho barco. Navegava nas águas, ou ancorava nas margens, do Mar Central, designação arcaica que insistia em utilizar, sempre que se permitia dispender algum tempo em devaneio. Alimentava-se do que pescava, de algumas algas cujo sabor apreciava e de fruta, sempre que a podia colher.
Costumara embarcar sem destino ou função definidos, plenamente confiante na sua capacidade de trabalho braçal e nas suas excepcionais condições de saúde. O fluir dos tempos tornou-o solitário e desligado, sendo a comunicação com os seus semelhantes progressivamente mais penosa, até dolorosa.
Tal desconforto levou-o a construir o seu estranho barco e, depois, a optar por não utilizar a voz para comunicar. A ausência de comunicação, primeiro verbal e depois total, aliada ao estado de existência solitária, ou, de forma mais correcta, o "estado sozinho", eram-lhe confortáveis. Dir-se-ia que a vida de nómada do Mar, errando sem pressa nem desejo, lhe mantinha a psique longe da tristeza e da felicidade. E muito longe da dor e do prazer. De um modo gradual e suave, deixou de acostar às zonas com maior fixação humana, nunca ousando abandonar os limites das águas que considerava senhoras da sua existência.
Um dia em que navegava indolente e afastado da costa ocidental, foi perturbado pela presença de um enorme barco de aspecto sinistro. De um dos bordos deste, desceu um bote de côr e textura desconhecidas, com um grupo de homens vestidos de igual no seu interior. Estes aproximaram-se da sua embarcação de madeira de cipestre e, quando a cerca de 60 côvados, apontaram-lhe uns paus ocos e cinzentos, que lhe causaram uma sensação desconfortável.
Um dos homens tentou comunicar verbalmente com ele, mas nada compreendeu do som por ele emitido. Outro homem sugeriu-lhe, por intermédio de gestos, que levantasse os braços e achou sensato obedecer à indicação. Os homens abordaram o seu barco. Aquele que gesticulara aproximou-se cautelosamente e estendeu-lhe uma estranha túnica, com espaço para os braços e um forte odor a pez. Aceitou a túnica com gravidade, vestiu-a e apreciou o facto de o homem ter voltado a palma da mão direita para si.
Foi conduzido no pequeno bote com naúseas crescentes. O fedor a pez e ferrugem parecia emanar de todos os objectos que estes homens manipulavam. Embora satisfeito com o reboque do seu barco e por não terem exercido violência sobre si, não conseguiu evitar os vómitos quando foi içado para bordo da grande embarcação. Os homens, aparentemente assustados, emitiram sons entre si e decidiram levá-lo rapidamente, através de um labirinto de corredores de metal, até uma sala interior branca, que cheirava a sândalo, onde era aguardado por um homem de barba e cabelos brancos, vestido com uma túnica branca com botões.
O odor a sândalo e a alvura da sala reconfortaram-no e conseguiu recuperar o domínio das entranhas. Nesse instante, observou aquele que lhe entregara a túnica a segredar algo ao homem de barba. Este fez um gesto com a mão e emitiu alguns sons, talvez instruções para ser deixado a sós com o... prisioneiro - apesar da ausência de violência, sentia-se impotente e afigurava-se-lhe ajuizado acatar as instruções que recebia.
Uma vez a sós com o homem de barbas, reparou como este o olhou intensamente nos olhos, levantou a mão direita, de palma voltada para si e lhe sorriu. Prontamente lhe retribuiu o sorriso, pleno de alívio e satisfação.
O homem de barba e bata tomou um pequeno objecto cilíndrico e separou uma parte dele, expondo uma secção cónica curta que terminava numa fina ponta de metal. Tomou também um rectângulo de um material branco e maleável e, com o objecto pontiagudo, traçou uma forma de escrita no rectângulo branco, voltando-o para si.
Gilgug olhou para o rectângulo branco e não pôde conter uma gargalhada, surpreendendo-se com o timbre ressoante e o tom muito grave da sua voz. Embora a grafia fosse um pouco invulgar, tratavam-se, indubitavelmente, de caracteres hebraicos. Teria preferido grafia suméria, mas a comunicação estava assegurada.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Instantâneos de Escárnio e Mal-Dizer

Com o cabelo apanhado e de óculos na ponta do nariz, estilo catequista, a Criacionista histriónica avançou triunfante em direcção ao palco, abominando o aborto e dando graças pela Guerra no Iraque. A multidão cantava entusiasticamente "Drill, baby, drill" e ela, de bíblia numa mão e Magnum na outra, abeirou-se do palanque.
De braço pendente, com uma carabina ao ombro e a bandeira da União pendendo-lhe em jeito de capa de super-herói, o Veterano aleijadinho, com um sorriso, acercou-se também do palanque.
Cumprimentaram-se, rezaram em palco e acabaram a saltitar pateticamente ao som de "Sweet home Alabama".
Enquanto isto, o pseudo-Messias, de sorriso publicitário na face e de microfone na mão, prometia pela enésima vez que é possível sonhar e que a mudança (?) pode acontecer, num palco dominado por um gigantesco placard, com uma única frase: "My Russian Silence".

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O Surfista Atlante (Maio de 2008)

Golyan foi dos últimos da sua raça, a quarta, a abandonar Poseidon, pois sempre se sentira em sintonia mental com a informação contida nas águas moduladas das Lagoas Herméticas.
E, na altura da Grande Escolha, fora dos poucos a permanecer em Gaya. Sempre adorara as águas do Oceano do Meio e a instabilidade tectónica crescente permitia-lhe agora sublimes momentos de deslize na crista das vagas alterosas, sob um céu de chumbo e fogo.
Nunca se revira na interacção que a Nação Atlante estabelecera com as outras espécies sencientes, baseada na supremacia mística, científica e tecnológica. Não se sentia um orgulhoso Atlante, apenas lamentava o inevitável naufrágio do continente. Nutria até um desagrado mental quer pela postura altiva dos seus semelhantes, Dourados, Vermelhos ou Brancos, quer pelo tom soturno com que encaravam o fim de uma era.
Este sentimento, que resultava num afastamento dos outros e numa postura solitária, evoluia desde criança e sempre fora alvo da censura dos seus pedagogos, encaminhando-o para uma formação em Mística Quântica, apenas conducente à colocação nas Lagoas Herméticas e invariavelmente subordinado a um Informático e a um Físico-Matemático, pois as Tríades Operacionais eram constituidas por estes elementos, ordenados por esta hierarquia. Estas, de constituição vitalícia, constituiam o elemento biológico senciente operacional nas Lagoas Herméticas, gerando a Tri-Mente. A estabilidade e eficácia operacional das Tri-Mentes eram rigorosamente garantidas pelo Templo Eugénico, que detinha absoluta autoridade sobre a escolha de elementos e composição das Tríades Operacionais, sendo a cerimónia do Juramento de Hermes um dos momentos mais solenes na vida de um "Atlante das Lagoas", expressão descontraída que designava genericamente esta comunidade místico-científica.
A sorte bafejara a sua Tríade, pois não só era das mais eficazes nos últimos 400 Ciclos de Gaya, como existia uma genuína amizade entre os seus membros. Os Sacerdotes-Cientistas do Templo Eugénico comentavam em tom semi-jocoso que o facto de esta Tríade Operacional ser constituída por um Branco, uma Vermelha e um Dourado - algo que não era visto há mais de 35 hectociclos - assegurava o invulgar sentimento de amizade que Aryan, Rubyria e Golyan partilhavam. E estes desprezavam as tentativas de racionalização dos seus superiores hierárquicos, que classificavam como mais uma das típicas manifestações da arrogância Atlante, pois todos sabiam da secreta inveja que aqueles nutriam pela excepcional relação de amizade que mantinham com Nemon X-409, um imortal da Raça Azul.

Três contos publicados

Em Maio de 2008, foi lançado o número 4 da revista literária Callema, onde os contos "DOIS SORRISOS", "TEUTON XXIV" e "O LAGO" foram publicados.
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(Pode aceder ao site da Cooperativa Literária, entidade responsável pela edição da revista, clicando na imagem ou utilizando o link na barra lateral)

Conto publicado

Em Junho de 2007 foi lançado o número 2 da revista literária Callema, onde o conto "ELOHIM", da série "NEGROS MUNDOS" foi publicado.
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(Pode aceder ao site da Cooperativa Literária, entidade responsável pela edição da revista, clicando na imagem ou utilizando o link na barra lateral)

Declaração de (re)abertura

A disponibilidade do endereço e o desaparecimento de um blog onde estavam reunidos textos de um grupo de bloggers (o Círculo-Narrativa), que constituiam os capítulos de um romance policial incompleto (A Caixa - Uma Blog Story), levaram-me a recriar L'Chaim Shedim, o meu primeiro blog.
Aqui poderão encontrar, entre outros, links para blogs de alguns membros ainda activos do grupo supracitado.
Neste blog, a publicação de textos será permanente, excepto quando estiverem envolvidos direitos de publicação.
Cumprimentos.