sexta-feira, 23 de abril de 2010

Zigurate (Abril de 2005)

A mulher teria seguramente 1.85 m de altura, tez morena e longos cabelos negros, levemente ondulados. Trajava um vestido preto justo, que lhe realçava o corpo escultural, usava um delgado fio iridescente ao pescoço e tinha as unhas pintadas de preto. Judith estava impressionada com tamanha beleza e exotismo e ter-se-á denunciado com um olhar mais demorado, pois que a mulher voltou-se para ela e subjugou-a completamente com a intensidade dos seus grandes olhos azuis escuros.

Judith ficou colada ao chão, como que hipnotizada, consumida por uma sensação estranha de vazio mental e um desejo ardente de conhecer aquela mulher, apesar do medo que ela lhe inspirava e do facto de nunca antes ter desejado conhecer uma mulher... Não desta maneira!

Acercando-se de Judith, a mulher apresentou-se:

-Sheenaz Szandòz, a senhora é?

-Judith Krilliev...

Se a impressão visual fora profunda, abissal foi a sensação causada por aquela voz grave e majestosa que, enquanto soou, impediu Judith de observar o bar onde se encontravam, e lhe preencheu a perspectiva visual com imagens de cidades antigas e povos exóticos.

-Gostaria que me acompanhasse, Judith... E a Judith também o deseja.

-Euh, sim...Mas...

-Shhhhhh....

Enquanto emitia o som, Sheenaz colocou um dedo sobre os lábios de Judith e encaminhou-a para o privado do bar, onde apanharam um elevador.

-Onde vamos?!... Isto é muito estranho e suspeito...

-Nada tema, Judith. Vamos ao topo do edifício. Vai gostar da vista...

Fora o único lampejo de vontade própria que animara Judith desde que cruzara o olhar com aquela mulher, mas era inútil... Até porque Judith estava a aperceber-se da intensidade com que desejava sexualmente Sheenaz.

Quando chegaram ao terraço do edifício revelou-se-lhes uma soberba vista do Rio Hudson e Sheenaz tomou Judith nos seus braços.

-Sheenaz...Eu nunca senti algo desta intensidade por ninguém...Confesso que estou bastante assustada

-Nunca receies a tua vontade, Judith. Existem potencialidades em ti que transcendem qualquer receio que até hoje tenhas sentido.

O tom de voz tinha sido invulgarmente profundo e apaziguador...

E Judith beijou Sheenaz.

No momento em que se beijaram, o seu corpo começou a aumentar de temperatura e as imagens de povos e cidades, peculiarmente ancestrais e exóticas, repovoaram o seu imaginário de forma mais perene. O beijo evoluiu rapidamente para um cenário de preliminares sexuais e o Rio Hudson já não era visível. Judith sentia uma aragem quente e seca na sua pele nua, uma aragem típica de uma noite de verão no deserto... E os olhos de Sheenaz tornaram-se luminosos, de um tom azul ainda mais escuro e profundo. Ultrapassaram os preliminares.

Fizeram sexo de forma intensa e apaixonada, com conhecimento perfeito do corpo uma da outra, como se fossem amantes há já vários séculos e Judith atingiu o clímax brutalmente.

Após o orgasmo, Judith olhou espantada em redor, pois que já não se encontrava em Nova York, mas no topo de um Zigurate, com o deserto e o Rio visíveis ao longe. Olhou Sheenaz, cujos olhos cintilavam, luminosos e completamente azuis. Esta sorria nua, com o seu cabelo agitado pela brisa do deserto. Começou a falar, mas a voz era um rugido grave e gutural, absolutamente inumano:

-Eis-te desperta, Nobre Judith. Agora és verdadeiramente tu!!!

-Eu?...

Judith remeteu-se ao silêncio. A sua voz tornara-se igual à de Sheenaz.

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