Golyan foi dos últimos da sua raça, a quarta, a abandonar Poseidon, pois sempre se sentira em sintonia mental com a informação contida nas águas moduladas das Lagoas Herméticas.
E, na altura da Grande Escolha, fora dos poucos a permanecer em Gaya. Sempre adorara as águas do Oceano do Meio e a instabilidade tectónica crescente permitia-lhe agora sublimes momentos de deslize na crista das vagas alterosas, sob um céu de chumbo e fogo.
Nunca se revira na interacção que a Nação Atlante estabelecera com as outras espécies sencientes, baseada na supremacia mística, científica e tecnológica. Não se sentia um orgulhoso Atlante, apenas lamentava o inevitável naufrágio do continente. Nutria até um desagrado mental quer pela postura altiva dos seus semelhantes, Dourados, Vermelhos ou Brancos, quer pelo tom soturno com que encaravam o fim de uma era.
Este sentimento, que resultava num afastamento dos outros e numa postura solitária, evoluia desde criança e sempre fora alvo da censura dos seus pedagogos, encaminhando-o para uma formação em Mística Quântica, apenas conducente à colocação nas Lagoas Herméticas e invariavelmente subordinado a um Informático e a um Físico-Matemático, pois as Tríades Operacionais eram constituidas por estes elementos, ordenados por esta hierarquia. Estas, de constituição vitalícia, constituiam o elemento biológico senciente operacional nas Lagoas Herméticas, gerando a Tri-Mente. A estabilidade e eficácia operacional das Tri-Mentes eram rigorosamente garantidas pelo Templo Eugénico, que detinha absoluta autoridade sobre a escolha de elementos e composição das Tríades Operacionais, sendo a cerimónia do Juramento de Hermes um dos momentos mais solenes na vida de um "Atlante das Lagoas", expressão descontraída que designava genericamente esta comunidade místico-científica.
A sorte bafejara a sua Tríade, pois não só era das mais eficazes nos últimos 400 Ciclos de Gaya, como existia uma genuína amizade entre os seus membros. Os Sacerdotes-Cientistas do Templo Eugénico comentavam em tom semi-jocoso que o facto de esta Tríade Operacional ser constituída por um Branco, uma Vermelha e um Dourado - algo que não era visto há mais de 35 hectociclos - assegurava o invulgar sentimento de amizade que Aryan, Rubyria e Golyan partilhavam. E estes desprezavam as tentativas de racionalização dos seus superiores hierárquicos, que classificavam como mais uma das típicas manifestações da arrogância Atlante, pois todos sabiam da secreta inveja que aqueles nutriam pela excepcional relação de amizade que mantinham com Nemon X-409, um imortal da Raça Azul.